quinta-feira, 17 de julho de 2008

TIMIDEZ




Timidez: uma doença ou um jeito de ser?

Auto-confiança é o segredo para enfrentar todas as situações
O que vão pensar de mim? O que vão pensar do meu cabelo, da maneira como eu ando e falo? O tímido vai a um julgamento toda vez que se expõe a situações novas. Mas não são só eles que se incomodam com o julgamento alheio. Segundo Bernardo Carducci, especialista norte-americano em timidez da Universidade de Indiana, 75% das pessoas apresentam comportamentos tímidos na presença de estranhos. Mas, para os introspectivos crônicos, estes comportamentos são freqüentes, intensos e emperram a vida.
Em seu recém lançado livro "A timidez não é um problema", o escritor norte-americano J.S. Jackson acredita que é possível considerar a introversão como um presente especial que pode nutrir a alma criativa. Daí vem aquela noção de que tímidos são criaturas mais sensíveis. "Muitos de nossos melhores escritores, artistas, cientistas e compositores são pessoas tímidas que desenvolveram capacidades para ter sucesso na maior parte das situações", diz Jackson.
Mas o que é a timidez? Onde ela nasce? Especialistas se dividem quanto ao seu diagnóstico. "A timidez é uma doença cosmopolita", diz o psiquiatra Nei Nadvorny, especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria e coordenador do site Laboratório da Timidez. "Ela está no código internacional de doenças como fobia social. No entanto, tem graus mais altos e mais baixos de gravidade", conclui.
Segundo Nadvorny, existem introvertidos que se atrapalham na hora de falar com o sexo oposto, aqueles que ficam verme-lhos para falar em público, os que não gostam de escrever na frente de outras pessoas. E, se a introspecção engloba cada vez mais sintomas, mais tímida a pessoa é, ou se torna.
Muitos introvertidos garantem: ela não atrapalha em nada suas vidas. "Às vezes fico com vergonha do meu corte de cabelo, do jeito como brinco. Mas consigo conversar com a minha professora, então acho que a minha timidez não me atrapalha", diz o estudante Rafael Amaral, de 11 anos.
O analista financeiro José Carlos de Meo, 45 anos, aprendeu a se aceitar como é. "Quando era mais jovem me incomodava com a introspecção, mas aprendi a criar artifícios para controlá-la, como sorrir quando me sinto tímido", diz ele.
Mariana Pupo, psicóloga da Unifesp, acredita que timidez e fobia social não são, necessariamente, a mesma coisa. "Timidez é mais um jeito de funcionar, um estilo de personalidade", diz. A opinião é partilhada pela psicóloga Lucélia Paiva, doutoranda em psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP. "Ela é mais uma forma do indivíduo ser."
Felipe Nakano Cruz, de 4 anos de idade, é considerado um menino tímido pela mãe, a designer gráfica Josie Nakano, de 29 anos. "Ele já dançou na festa junina com o chapéu cobrindo o rostinho dele", diz Josie. No entanto, sua introspecção melhorou muito depois que ele entrou numa escolinha.
Na escola, os professores devem estar atentos às crianças introspectivas e ajudá-las a se sentirem confortáveis e confiantes. "Para muitas crianças extrovertidas, isto vem naturalmente, como se eles tivessem nascido tagarelas", diz Jackson. Mas, para uma crian-ça introvertida, sentir-se confortável pode ser algo muito difícil de se conquistar.
"O ideal é tentar trazer as crianças para as atividades de um modo discreto", diz a psicóloga Sueli Conte. Trabalhar nos bastidores do teatro da escola, por exemplo, ajuda os pequenos a, pouco a pouco, se soltarem com os coleguinhas mais extrovertidos.
No final, especialistas concordam que, para driblar as armadilhas da timidez, o ideal é não apressar a criança, deixá-la ser quem ela é. Se a introspecção um dia incomodá-la, ela mesma irá buscar ajuda, com um adulto. Segundo Nadvorny, buscamos ajuda quando temos uma dor que não suportamos.
Bernardo Carducci, o especialistas da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, acredita que é preciso tentar entender os tímidos, em vez de tentar mudá-los.
"Não há nada de errado em ser um indivíduo tímido. O problema com a introspecção é não entendê-la e deixá-la te controlar, em vez de você controlá-la", aconselha Carducci.


Bianca Bortolini Florsz é psicóloga especialista em saúde mental, psicopatologia e psicanálise pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Para saber mais, acesse: www.site.pop.com.br/clinicadepsicologia

Nenhum comentário: